terça-feira, 20 de dezembro de 2016

O Caminho do Coração

गुरुर्ब्रह्मा गुरुर्विष्णुर्गुरुर्देवो महेश्वरः ।
गुरुरेव परं ब्रह्म तस्मै श्रीगुरवे नमः ॥

Qualquer coisa corresponde a um de um milhão de caminhos. Posto isto, deve ter sempre presente que o caminho é apenas o caminho; se sente que não o deve seguir, não deve permanecer no mesmo, sejam quais forem as circunstâncias. Para possuir tal clareza, deve levar uma vida disciplinada. Só então saberá que qualquer caminho é apenas um caminho e não existe nenhuma afronta, para si próprio ou para os outros, em abandoná-lo, se é isso que o seu coração lhe diz para fazer. Mas a sua decisão de permanecer no caminho ou de o abandonar deve ser livre de medo ou ambição. Aconselho-o. Observe cada caminho atenta e deliberadamente. Faça-o quantas vezes julgar que são necessárias.

Esta é uma questão que apenas um homem idoso colocará. Este caminho tem coração? Todos os caminhos são iguais: eles levam a lado nenhum. São caminhos através dos arbustos ou dentro dos mesmos. Na minha própria vida, poderia dizer que percorri caminhos muito longos mas não estou em lugar algum. Este caminho tem coração? Se tem, o caminho é bom; senão, é inútil. Ambos os caminhos levam a lado nenhum; mas um tem coração e outro não. Um proporciona uma viagem alegre; enquanto o seguir assim será. O outro amaldiçoará a sua vida. Um fortalece-o; o outro enfraquece-o.

Antes de embarcar em qualquer caminho, coloque a questão: Este caminho tem coração? Se a resposta for não, saberá e então terá de escolher outro caminho. O problema é que ninguém coloca a questão e, quando um homem, finalmente, se apercebe que escolheu um caminho sem coração, o caminho está pronto para o matar. Nesse momento, poucos homens conseguem parar para deliberar e abandonar o caminho. Um caminho sem coração nunca é agradável. Terá que trabalhar duramente, até mesmo para o tomar. Por outro lado, um caminho com coração é simples; não lhe dará trabalho a gostar do mesmo.

― Carlos Castaneda, The Teachings of Don Juan: A Yaqui Way of Knowledge


Tomei conhecimento da frase “O caminho com um coração” há muitos muitos anos, através dos livros de Carlos Castaneda, sobre o seu professor Don Juan. Não entendi muito, os livros pareciam encriptados e para além da minha compreensão. De qualquer modo, a frase causou-me alguma impressão pois, mais tarde, tornou-se claro para mim o que o autor pretendia transmitir, era algo que eu estava à procura desde sempre. Readaptei este conceito para “O caminho do coração” (1). Esta versão da frase é mais clara mas menos poética e vamos agora discutir o que é realmente e porque é tão importante.






A minha experiência diz-me que a maioria das pessoas vive as suas vidas sem pensar muito, meio adormecidas, sem conhecimento, quase como zombies. As suas vidas não são nada, para além de uma série de compulsões (2), impostas pelos seus próprios desejos, medos, emoções, pressões sociais, necessidades fisiológicas, gostos e contragostos e outras razões semelhantes. A maior parte das suas vidas relaciona-se com atividades íntresecas à sobrevivência – alimentação, reprodução, relacionamentos, segurança, estatuto social e outras. Isto é, estão largamente ocupadas em satisfazer as suas necessidades básicas, muitas vezes quando estas já o foram suficientemente satisfeitas. Não têm a mais pequena ideia do que estão a fazer, porque o fazem e do que supostamente deviam fazer. Passam as suas vidas imitando-se uns aos outros, inconscientes, aprisionados e depois morrem. Claro que, muitas, aparentam estar muito felizes, “bem sucedidas” e também adquirem algumas coisas de valor, maioritariamente de valor material. Contudo, a maioria vive uma vida de aborrecimento, frustração, conformidade, tristeza e sofrimento, alternados com flashes de alegria, prazer e conhecimento. Vivem também na ilusão de controlo e vontade própria, forçadas por vários hábitos, aprisionadas a várias crenças, muitas vezes disfarçadas com um sentimento de “superioridade” e “valor”. O seu sentido de ética, moral e estética é emprestado dos outros de uma forma maioritariamente democrática e, alguns raros indivíduos, que se atrevem a desviar das normas, são rotulados como rebeldes, “diferentes” ou simplesmente considerados loucos.

Nesta altura, já deve estar a pensar que estou a ser excessivamente negativo em relação aquelas que são apenas pessoas normais e que, talvez, eu seja arrogante e presunçoso. Isto é a vida, não é? Altos e baixo, prazer e dor, etc., constituem uma parte dela, pode dizer e, só porque vivem naturalmente, com todos os seus desejos e medos, não os torna “zombies” ou idiotas tristes. Bem, eu concordo, é apenas natural e tais pessoas não são idiotas, certamente, muitas são bastante sábias e até inteligentes. De facto, prefiro utilizar outra palavra em vez de idiotas, zombies ou adormecidos, que é – Ignorantes. Descreve a sua condição de uma forma mais precisa, inofensiva e neutra. Um ignorante é uma pessoa a quem falta algum conhecimento necessário que, contudo, essa pessoa é perfeitamente capaz de tal conhecimento e de o obter em qualquer altura. Então, no essencial, essas pessoas estão no caminho da ignorância, de forma metafórica.

Eu próprio viajei nesse caminho, a maior parte da minha vida e ainda não estou certo se tomei a direção de um caminho melhor ou se ainda estou perdido nele.

De qualquer modo, parece demasiado negativo. Então, para ser justo irei mencionar alguns pontos positivos do género ignorante. De acordo com a minha experiência, tais pessoas têm, muitas vezes, uma boa natureza, são educadas, solidárias, obedientes, trabalhadoras, dedicadas aos seus deveres e responsabilidades, empáticas, respeitadoras da Lei e possuem, de facto, muitas outras qualidades humanas. Contudo, quando uma destas pessoas é testada e experimentada em situações difíceis (tais como fome ou guerra), estas características desabam e testemunhamos a natureza animalesca e institiva dessa mesma pessoa. Tais pessoas causam muito pouco mal, qualquer das formas, uma vez que não são poderosas e estão à mercê de situações externas. Também não fazem muito bem, pelas mesmas razões.

Mas existem também outras pessoas, as quais, tendo suprido as suas necessidades básicas, chegam a um ponto, onde encontram um grande vazio, um sentimento de insignificância, uma falta de propósito. Sentem como se algo estivesse em falta. Não sabendo como, lutam e, muitas vezes, tentam encontrar o que está em falta nas mesmas coisas mundanas, embora de forma excessiva. Tais pessoas são muito ambiciosas, tais pessoas são empreendedores, políticos, reis, elevados no patamar do “sucesso”, sempre na liderança da competição feroz. Têm sucesso e são modelos a seguir. São ricos e influentes, carismáticos e poderosos. Vivem uma vida extraordinária, tudo em função de preencher o vazio que sentem em si mesmos, através de objetos e atividades materiais.

Agora, pode ter assumido que tais pessoas estão finalmente no caminho certo. Caso contrário, porque estaria eu a exaltá-las tanto? Parece, de facto, o tipo de vida que se sonha ter. Bem, mas não é… existe um lado negativo. O vazio não pode ser preenchido por meios externos, não está lá porque lhes falta algo, em termos materiais ou sociais. O vazio permanece para sempre. Elas lutam e lutam e não o conseguem preencher. Nunca há suficiente, nunca estão contentes, nunca satisfeitas. As suas vidas são superficiais e são tristes no seu interior, enquanto mostram o contrário, no exterior. Ainda são ignorantes. Contudo, estão à beira de algo. Este sofrimento é, muitas vezes, suficiente para as empurrar para o caminho correto. Esta perceção vem tarde, muitas vezes, muito tarde, uma vez que estão mais ocupadas a conseguir mais e mais, mais ocupadas a terem “sucesso”.

Têm um grande medo, o medo de perderem tudo. Estão sempre à mercê de outros que os possam fazer sentir “superiores”, que lhes digam que podem ter tudo. Um rei num deserto não é um rei. Ele necessita de outros que possa comandar. Um homem rico no deserto não é rico. Necessita de pobres à sua volta para se sentir rico. Um pessoa famosa necessita de outros para manter a fama viva. A dependência dos outros, que assombra as suas conquistas, é a fonte do seu sofrimento. Elas podem apenas usar os outros. Não os podem possuir. Sabem isto e receiam-no. São  oportunistas. São boas a aproveitarem-se das situações. Tais pessoas tornam-se muito gananciosas, violentas, arrogantes e ciumentas. Estando em posições poderosas podem causar grandes males. Têm o potencial para fazer muito bem, também, apesar de raramente se ver. Há sempre um motivo escondido por detrás das ações humanitárias. Iludem, manipulam e justificam os seus feitos, com mentiras. Tudo isto para quê? Elas não sabem. Apenas conseguem sentir ligeiramente que isto não é o que querem fazer. Sentem que precisam de algo mais. Elas querem amor, amizade verdadeira, simplicidade e tudo isto se lhes escapa pelos punhos como areia.

Há formas mais brandas deste tipo, também. Tais pessoas tentam preencher o vazio através de outras coisas, todas externas e não em grande escala. Algumas caem na dependência de drogas ou jogo ou têm relacionamentos e mais relacionamentos, casamentos, crianças. Algumas comem muito e ficam obesas. Outras acumulam coisas, ganham mais e mais dinheiro, consomem mais, compram mais coisas caras. Mas descobrem que, em vez de conseguirem o que querem e de obterem mais do que necessitam ou desejam, a felicidade permanece ilusória e transitória. Os desejos e vontades parecem expandir-se incessantemente, dando satisfação momentânea ou nenhuma, tornando-se, na realidade, fonte de sofrimento. Algumas pessoas tornam-se deprimidas e preguiçosas, não sabendo como preencher o vazio. Não conseguem compreender porque continuam a sofrer, quando têm tudo o que precisam e, talvez, mais do que necessitam.

Esta é também a minha experiência. Tendo feito tudo o que é necessário para ter uma boa vida, tendo acumulado tudo o que se precisa para ter uma boa vida e tendo tido todos os relacionamentos e amizades que desejei, não encontrei paz. Também percorri este caminho, durante um longo tempo. Ainda não estou certo se terei abandonado esta forma de vida.

Não existe compulsão para deixar o caminho da ignorância, não há leis naturais que o proíbam. Não há necessidade de entrar em pânico. Qualquer um pode percorrê-lo, durante toda a vida, naturalmente. Mas existem consequências e discutiremos, mais tarde quais poderão ser, talvez. Seguramente, uma delas é o sofrimento que não parece divertido. A boa notícia é que o mesmo pode ser evitado, em muitos casos. Por vezes, apenas uma pista é necessária e a pessoa pode perceber que está a ir na direção errada. Assim se inicia a luta para encontrar o caminho certo.

Agora, chegámos ainda a outro género de pessoas. Este género é raro, sendo que conheci algumas apenas.  São pessoas que reconheceram as armadilhas dos caminhos acima referidos ou que já caíram na maior parte deles e conseguiram, de qualquer forma, escapar aos mesmos, tendo encontrado um melhor. A principal característica destas pessoas é o seu amor pela liberdade. Precisam de se sentir livres, livres de tudo. Fazem algo que efectivamente gostam de fazer, não porque as mandaram ou porque simplesmente copiam alguém. Não estão presos a nada, nem mesmo às coisas que amam. Não têm muito ego, nem peso ou inércia nas suas personalidades. Amam a mudança, não a temem. São aventureiros e ousados. Livres de hábitos, crenças e doutrinas de qualquer género. Não se agarram a nada e nada se agarra a si.

São caracterizadas por uma curiosidade intensa, mente aberta, ceticismo saudável e um grande amor pelo conhecimento. Adoram aprender e ensinar. Questionam tudo e não acreditam em nada. Não são fáceis de enganar. A criatividade é a sua natureza. São artistas, cientistas, escritores, filósofos e pessoas que procuram desenvolvimento   espiritual ou mestres iluminados. Vendo a liberdade como a essência da felicidade, preferem não controlar os outros e não procuram poder. Preferem não possuir demasiados bens materiais e evitam acumular uma multiplicidade de relações, em seu redor.

Estas pessoas sabem algo – algo muito valioso. Elas sabem que devem seguir o que os seus corações dizem, não o que os outros dizem. Recusam os caminhos da ignorância e sofrimento e percorrem o caminho da felicidade. Elas sabem que a felicidade vem de dentro, de fazer o que se gosta. Estas pessoas apreciam as coisas materiais, os amigos, os relacionamentos, o entertenimento social, etc. mas permanecem completamente desapegadas e não se deixam distrair. Os seus corações puxam-nos de volta para o seu próprio caminho, vezes sem conta.

Estas pessoas conhecem a chave para a felicidade. Elas desejam, efetivamente, mas não se deixam afetar quando os desejos não se concretizam. Elas, efectivamente, adquirem coisas para as necessidades básicas mas respeitam sempre o limite onde acaba a necessidade e começa a ganância. Apreciam o luxo mas nunca o possuem. O amor irradiado a partir destas pessoas é incondicional, é algo que tem que ser dado a todos, não tirado. Os seus relacionamentos caracterizam-se por não existir apego e por não serem possessivos. Preferem dar, a tirar. Nunca julgam e permanecem estáveis em todas as situações. Respeitam todas as regras mas nunca são prisioneiros das mesmas e saem de qualquer situação que ameace a sua liberdade, assim que podem.

As qualidades de tais pessoas são demasiado numerosas para serem mencionadas aqui, por isso, deixo este assunto para outro artigo. E no que respeita a aspetos negativos? Têm defeitos? Não sei, verdadeiramente, mas já vi pessoas a temerem-nas, a odiarem-nas, a ridicularizarem-nas e a vê-las como perigosas. Mas tais pessoas são ignorantes, odeiam a liberdade e temem qualquer pessoa que seja demasiado livre para ser controlada. Posso escrever um livro inteiro sobre como a “sociedade” trata tais pessoas e porquê mas penso que não seria muito útil.


Obviamente, os tipos de pessoas acima descritos não encaixam todas em categorias definidas. Existem todos os géneros de variantes e misturas. Todo o conjunto ocupa um todo um espetro de possibilidades.

Então, eu defino o caminho do coração como um estilo de vida que leva a uma vida cheia de paz, felicidade e satisfação. Transforma uma pessoa em alguém com as qualidades acima referidas. (4)


Viver não é esta coisa de mau gosto, medíocre e disciplinada que denominamos existência. Viver é inteiramente diferente; é abundantemente rico, mudando eternamente e, enquanto não entendermos tal movimento eterno, as nossas vidas estão condenadas a ter pouco significado.
- Jiddu Krishnamurti

Uma questão óbvia se coloca – como pode cada um encontrar o caminho do seu coração? É o mesmo para todos? Todos precisam de ser cientistas/artistas/yogi ou qualquer outra coisa para percorrerem tal caminho? São três questões… e, segundo a minha experiência, não existem respostas definitivas. Parece que o caminho nos encontra quando estivermos prontos. Quando tivermos tentado vários percursos que não nos satisfaçam, quando continuarmos a vacilar, quando nos tornarmos conscientes das nossas situações e fizermos algum esforço para encontrar a solução, então o caminho do nosso coração aparece.

Não é igual para todos mas maioritariamente similar, raras vezes, demasiado exótico. Existem certos temas que parecem ser comum a todos esses caminhos – liberdade, procura da felicidade, conhecimento, etc. Tem basicamente a ver com o próprio, desenvolvimento do próprio e lidar com os outros apenas em certas situações que ajudam o próprio. Então é ajudar os outros e salvar o mundo o seu caminho? Talvez mas duvido que, se for ignorante e infeliz, encontre muito sucesso em tal. Tem de começar com o próprio. Então se tiver dúvidas se um caminho é ou não para si, verifique se você, o próprio, ganhará algo com isso. Se estiver a sofrer ou a fazer outros sofrer com essa opção, não é o seu caminho.

Aceitar a ajuda daqueles que já estão no caminho certo é recomendado. Contudo, não poderá meramente segui-los. Eles estão no caminho deles, não no seu. Reconhecerá tais mestres pelas qualidades acima referidas. (Não existem regras aqui, pelo que poderá acabar com os mestres errados. Esteja atento).

Imitando simplesmente o que eles fazem ou dizem, não irá ajudar. Não se trata do que fazem mas de quem são. Terá de ver a essência do seu ser e tentar encontrar a sua própria essência, refletindo o seu próprio ser. Quando ganhar algo com um mestre, deixe-o ir. Não ficará consigo por muito tempo, qualquer das formas. Apenas lhe pode mostrar o caminho mas não o poderá carregar, nos seus braços, ao longo do mesmo. Terá de aprender a caminhar no caminho do seu coração.

Cada um tem um caminho único, apesar de haver semelhanças e sinais reveladores. Você não poderá simplesmente seguir o caminho de outra pessoa, pois esse é o caminho do coração dessa pessoa, não do seu. Não o levará a lado nenhum. Talvez alguma excitação e aventura mas sentir-se-á insatisfeito, no final. Um caminho não é traçado por uma profissão ou trabalho, um grau académico ou uma competência. É algo que o atrai não porque rende dinheiro ou lhe traz fama ou porque os seus amigos o estão a percorrer mas porque sente profundamente que é o seu. O seu caminho tem raramente algo a ver com os outros. Tem que ser acerca de si. Demora algum tempo, muito tempo, a reconhecer o seu caminho. Estamos profundamente doutrinados e os nossos cérebros sofreram uma tal lavagem por parte de outros, para o reconhecer facilmente, especialmente durante a infância.

Outra questão se levanta: como saber se está no caminho do seu coração? É fácil. Encontrará felicidade e paz crescentes. Os momentos de sofrimento irão aparecer mas desaparecerão rapidamente. Assistirá a uma reviravolta. Mais momentos de felicidade e paz e raras ocasiões de sofrimento e dor. (5) Perceberá que estará a ganhar as qualidades acima referidas, sem um esforço intenso. Poderá ganhar essas qualidades facilmente ou com cansaço e longo esforço mas tal não é natural e não passará o teste do tempo. Ganhar estas características não é o objetivo. O objetivo é percorrer o caminho do seu coração. Outras coisas são apenas frutos que pode colher das árvores, ao longo do seu caminho.

E o caminho acaba? Haverá, no final do mesmo, um caldeirão com ouro? Na minha opinião (não da minha experiência), nunca acaba, continua. É a viagem que é enriquecedora, não o destino. Não existe destino. Pelo contrário, se pensa que acaba algures e se depara com um grande muro, confuso, aprisionado, sem saber o que fazer a seguir, então saberá que não era o seu caminho. Era um caminho errado! Relaxe, pense e distraia-se. Pode acontecer que tais situações ocorram mesmo quando percorre o verdadeiro caminho do coração mas as mesmas passam depressa e aprendemos com elas. Então é necessária alguma paciência antes de tirar conclusões sobre o seu caminho. Deixe-o revelar-se.

Terei já eu encontrado o meu caminho? Não, ainda o procuro. Estou pouco certo das direções a seguir e consigo ver alguma luz, ao longe, ao fundo do túnel. Afortunadamente não se trata do túnel do comboio :-). Não sou um mestre, apenas um estudante.

Fui eu quem descobriu tudo isto? Estou a inventar? Não. Existem muitos que apontam para algo similar. Estou apenas a regurgitar o que os grandes mestres ensinam. Krishan ensina um conceito denominado Swadharma (6), o qual é interpretando de várias formas. Eu interpreto-o apenas como o caminho do coração. Faça a sua escolha. A filosofia ocidental tem o conceito de Enteléquia (7) que interpreto como  o “objectivo final interior”, muito próximo do conceito do caminho do coração. As filosofias Yogi baseiam-se no Mukti (libertação ou liberdade) como sendo o objetivo final da vida de cada um e, sendo a liberdade o tema central do caminho do coração, sinto que se aproxima. (8) Guatam Buddha recomenda o fim do sofrimento como objetivo que nos leva a seguir um determinado caminho para pôr fim à ignorância – a causa do sofrimento. Não me encontro qualificado para comentar tais grandes ensinamentos, então, por favor, procure e leia matérias adequadas. (9) É muito vasto e poderá necessitar de um bom mestre para perceber tudo. A chave não é simplesmente ler estes ensinamentos, mas segui-los e aplicá-los. Cedo descobrirá que todas estas filosofias e experiências de outros, independemente da sua grandiosidade, apresentam algumas limitações. Tratam-se de experiências ganhas através dos seus caminhos. Você necessita seguir o caminho do seu próprio coração.

 ____________________________________________________________

 Notas:

[1] Não confundir com “o caminho da devoção” ou Bhakti Marg.

[2] Estou grato a Sadhguru Jaggi Vasudev por este ensinamento – a vida normal como uma série de compulsões.

[3] De notar que existem muitas pessoas nas “ocupações” mencionadas, como por exemplo alguns “cientistas” que estão apenas a realizar o trabalho de cientista, nunca tendo descoberto ou inventado nada extraordinário e alguns “artistas” são apenas trabalhadores competentes, apresentando pouca criatividade. Estes não estão incluídos na lista, obviamente. Prefiro o termo trabalhadores da arte ou trabalhadores da ciência, para os mesmos.

[4] De notar que o termo “coração” está a ser utilizado metaforicamente, por exemplo o coração de um vulcão – o seu centro mais quente. Não tem nada a ver com um órgão a bombear o sangue dentro do seu corpo. Significa simplesmente o centro do seu ser, onde sente que é e a partir de onde age.

[5] A dor, como dor mental, não física. Não existem caminhos ou estilos de vida que garantam a eliminação da dor do corpo, apesar do sofrimento causado pela mesma, possa ser minimizado.

[6] Veja esta link para algumas interpretações ou procure no Google:  http://www.bhagavad-gita.org/Gita/verse-03-35.html

[7] De https://en.wiktionary.org/wiki/entelechy
Um tipo particular de motivação, necessidade para auto-determinação, uma força interna direcionando a vida e o crescimento para se tornar em tudo o que é capaz de ser; a necessidade de atualizar as próprias crenças; tendo, ao mesmo tempo, uma visão pessoal e a capacidade de atualizar essa visão a partir do interior.
Enteléquia é a designação atribuída ao nosso objetivo dinâmico interno. É a semente do potencial que se aninha profundamente, no nosso interior, contendo a imagem fracionada de quem realmente somos e do que nos podemos tornar. O filósofo grego Socrates, inicialmente cunhou o termo enteléquia e o grande místico (Pierre) Teilhard de Chardin trouxe-o à atenção pública.(…) O sentimento interno de propósito que é governado pela enteléquiq é a força impulsionadora por detrás das nossas vidas, ajudando-nos a desabrochar para a máxima expressão de nós mesmos.
- Lisa Tenzin-Dolma,Mind & Motivation: The Spirit of Success
[8] Estou grato a Sifu Rohit Arya por explicar estes conceitos muito claramente.
Veja https://www.youtube.com/watch?v=qbCtvnAn5y0

[9] Como exemplo, veja aqui:
http://www.vipassana.com/resources/8fp1.php
http://www.accesstoinsight.org/lib/authors/bodhi/waytoend.html#ch1

Sem comentários:

Enviar um comentário